Mais um amanhecer se faz presente, no balanço do meu quintal há uma criatura visivelmente só. Ela não me dirija a palavra, apenas seu olhar que se encontra triste, me pergunto de onde essa criança surgiu e logo os pássaros que inconvenientemente cantam ao alto do meu limoeiro dizem-me que ela não está só como meus olhos condenam. A revejo e o olhar permanece fixo ao meu, subitamente uma lágrima caí em seu rosto e logo os soluços desenfreados daquela criatura incapaz de sorrir me fazem sentir uma certa pena. E surpreendentemente os pássaros estavam certos, ao lado dessa sombra há outra, mais densa e obscura, doravante ela transmite paz não só a minha inesperada hóspede, como a mim mesma. O silêncio torna-se torturante, minhas pernas não me permitem correr, mais ainda sim minha voz ressoa algumas poucas palavras, as duas criaturas diante de mim sorriem discretamente e logo me encontro em lágrimas que trazem um sentimento que desconheço. Acho que já se passaram horas, dias, anos ou talvez milênios, mas não se passaram nem mesmo os segundos que criam e recriam os minutos. Já não sei o que está acontecendo a minha volta, é como se o Mundo estivesse se disseminando ao poder alucinógeno desses dois seres que agora perecem-me ser tão íntimos. Tudo está tão confuso, e agora ouço um barulho remotamente familiar, assim despertando-me do meu devaneio. É o estridente despertar do relógio, anunciando que as seis horas se tornam minha cruel realidade, onde a rotina me escraviza, aliás era tudo parte da minha imaginação. Levanto-me e olho pela janela em direção ao quintal, especificamente para o velho balanço vazio e abandonado, não há ninguém lá, nem a criança, nem a sombra, nem os pássaros, nem o limoeiro, é apenas um pedaço do meu jardim mal tratado pelo descaso que o tenho submetido. Nada daquilo fora real, apenas a loucura que me acomete a cada dia mais em todo amanhecer.
SDias ( McSS )
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